Como não confundir Inteligência com Capacidade
ou Competência
De todos os palestrantes que ouvi você é o meu favorito! |
Toda
pessoa adulta goste ou não do sabor, sabe o que é alho e muito provavelmente já
ouviu, pelo menos uma vez na vida, o provérbio “não confunda alhos com
bugalhos”, mas poucos se dão conta do que, afinal de contas, significa
“bugalho”. Buscando essa palavra em um dicionário, aprendi que “bugalho” é a
excrescência de qualquer parte do vegetal, produzida pela ação de fungos ou de
insetos. Em outras palavras, o provérbio popular sugere que se separe o produto
desejado, no caso o alho, sem confundi-lo com algum caroço de discutível
semelhança.
Esse
provérbio, de certa forma, se ajusta à teoria das inteligências múltiplas e
solicita, portanto, que não se confunda o conceito de “inteligência”
com o de “competência”, “habilidade” ou ainda com conceito de “construtivismo” que
já analisamos outras vezes.
Não há
mesmo razão alguma para confundi-los.
Inteligência constitui um potencial biopsicológico que no
ser humano ajuda-o a resolver problemas. Dessa forma representa atributo inato
à espécie e assim nascemos com nossas diferentes inteligências, cabendo ao
ambiente no qual se inclui naturalmente a escola, mais acentuadamente
estimulá-las.A “competência” não é inata e, portanto,
constitui atributo adquirido.Representa a capacidade de usar nossas
inteligências, assim como pensamentos, memória e outros recursos mentais para
realizar com eficiência uma tarefa desejada. Se ao buscar um destino qualquer
descobrimos que a estrada foi interrompida, nossas inteligências levam-se a
essa constatação e a certeza de que se deve buscar outra saída, mas a forma
como faremos determina o grau de competência da pessoa. Como se percebe, a
competência é a operacionalização da inteligência, e a forma concreta e prática
de colocá-la em ação. Assim posto, ao trabalhar as diferentes inteligências
humanas, pode o professor ativar diferentes competências. Percebe-se dessa
maneira que a noção de “competência” surge quando aparece ou é proposto
um problema, pois este desafio é que mostrará a forma melhor em superá-lo.
Superar um problema com competência, entretanto, não implica que tenhamos
habilidade para fazê-lo.A habilidade é produto do treino e
do aprimoramento de nossa destreza.
Para que esses conceitos se ajustem a prática,
desenvolvamos o seguinte exemplo: o automóvel que nos leva a praia empaca em
meio à estrada; nossas inteligências detectam esse problema e a necessidade em
superá-lo. Se tivermos competência para isso, apanhamos a caixa de ferramentas
e colocamo-nos em ação, se não temos que ao menos tenhamos uma outra
competência, a de chamar depressa um mecânico. Supondo que saibamos consertar a
peça defeituosa e, dessa forma, resolvendo de forma pertinente o problema que nos
empaca, o faremos com maior ou com menor habilidade. Se o problema é histórico
em nosso carro e em nossa vida, provavelmente já conquistamos habilidade maior
em substituir ou consertar a peça defeituosa.
Levando-se esse exemplo para sala de aula, podemos
ao ensinar um ou outro conteúdo explorar suas implicações linguísticas,
lógico-matemáticas, espaciais, corporais e outras. Podemos ainda, propondo
desafios e arquitetando problemas, treinar competências nossas e de nossos
alunos, verificando que alguns as usam com notável habilidade, outros com
habilidade menor que, com persistência poderá crescer.
O trabalho com inteligências múltiplas em sala de
aula pressupõe uma reflexão construtivista, voltada para o despertar
progressivo de competências e sua transferência para vida prática através do
desenvolvimento de muitas habilidades que aos poucos se aprimora. Essa
concepção se opõe a idéia de que o saber transfere-se de uma pessoa para outra
como algo que estando pronto vem de fora e se encaixa na mente do aluno.
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