19 de julho de 2013

Ser Estudante


                                             Um texto de um grande mestre 
                                                          
 Hugo Lovisolo

Aluno e Estudante
Aurélio informa que antigamente a palavra “aluno” significava natural de certa terra, país ou lugar e, também, filho. Como essa palavra chegou a ganhar seus significados atuais: “pessoa que recebe instrução ou educação de algum mestre” ou “aquele que tem escasso conhecimento”, eu ignoro. Observemos que há dimensões comuns, o aluno recebe como a terra os tratos do agricultor, o mestre. O aluno tem escasso conhecimento, sofre, talvez, da pior ignorância, pois saber pouco é muitas vezes pior do que nada saber.
Eu não gostaria de ser chamado de aluno, quase soa como insulto. Não gostaria de relacionar-me com alunos; fico vibrante e feliz quando estou com um estudante.
Seja qual for o processo de mudança de significados, eu não gosto de palavra ”aluno”. Eu não gostaria de ser aluno. A palavra está carregada de sentidos de passividade e negatividade. O aluno é passivo porque recebe instrução ou educação de alguém e é negativo porque é aquele de escasso conhecimento. Por essa razão há movimento estudantil, o “movimento alunil” é um contra-senso.
Gosto muito da palavra “estudante”. Ela é sonora e forte. Apela para ser gritada, cantada, amada e acariciada. É uma palavra positiva e ativa, porque estudante é a “pessoa que estuda”. O estudante não recebe, ele age; não se define pela carência, mas pela positividade do agir na procura do conhecimento. Na vizinha Argentina, todo 21 de setembro, início da primavera, é o dia do estudante. Os estudantes saem às ruas para festejar o dom de ser estudante. O dia do aluno não existe, seria festejar o negativo, o passivo. Isso não soa como vital e educativo. E esse grande estudante que é o Milton Nascimento nos deu a interpretação dessa música maravilhosa, que logo se torno hino, “Coração de Estudante”.
Creio que nosso sistema de estudo é muito “alunístico”. Começamos controlando se o aluno está ai para receber. Supomos, sem nenhuma prova que se está ai, ele recebe. Surge essa instituição poderosa e ritual, a famosa lista de chamada! Existem disciplinas e mesmo cursos que se aprovam por frequência mínima. Há professores compenetrados que dedicam mais tempo à chamada que a revisão da última aula. A chamada é uma perda de tempo para o estudante, apenas serve para controlar o aluno, aquele que se está ai (supomos) recebe. A chamada é a morte do estudante e a consagração do ignorante passivo que deve estar preso a uma cadeira para receber e, então, perder um pouco de sua ignorância mediante o exercício da cátedra.


O sistema cada vez mais fabrica alunos. Se não recuperarmos os estudantes a escola terá, cada vez mais, a cátedra e a cadeia das cadeiras dos alunos.

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