Um texto de um grande mestre
Aluno e Estudante
Aurélio informa que antigamente a
palavra “aluno” significava natural de certa terra, país ou lugar e, também,
filho. Como essa palavra chegou a ganhar seus significados atuais: “pessoa que
recebe instrução ou educação de algum mestre” ou “aquele que tem escasso
conhecimento”, eu ignoro. Observemos que há dimensões comuns, o aluno recebe
como a terra os tratos do agricultor, o mestre. O aluno tem escasso
conhecimento, sofre, talvez, da pior ignorância, pois saber pouco é muitas
vezes pior do que nada saber.
Eu não gostaria de ser chamado de
aluno, quase soa como insulto. Não gostaria de relacionar-me com alunos; fico
vibrante e feliz quando estou com um estudante.
Seja qual for o processo de mudança de
significados, eu não gosto de palavra ”aluno”. Eu não gostaria de ser aluno. A
palavra está carregada de sentidos de passividade e negatividade. O aluno é
passivo porque recebe instrução ou educação de alguém e é negativo porque é
aquele de escasso conhecimento. Por essa razão há movimento estudantil, o
“movimento alunil” é um contra-senso.
Gosto muito da palavra “estudante”.
Ela é sonora e forte. Apela para ser gritada, cantada, amada e acariciada. É
uma palavra positiva e ativa, porque estudante é a “pessoa que estuda”. O
estudante não recebe, ele age; não se define pela carência, mas pela
positividade do agir na procura do conhecimento. Na vizinha Argentina, todo 21
de setembro, início da primavera, é o dia do estudante. Os estudantes saem às
ruas para festejar o dom de ser estudante. O dia do aluno não existe, seria
festejar o negativo, o passivo. Isso não soa como vital e educativo. E esse
grande estudante que é o Milton Nascimento nos deu a interpretação dessa música
maravilhosa, que logo se torno hino, “Coração de Estudante”.
Creio que nosso sistema de estudo é
muito “alunístico”. Começamos controlando se o aluno está ai para receber.
Supomos, sem nenhuma prova que se está ai, ele recebe. Surge essa instituição
poderosa e ritual, a famosa lista de chamada! Existem disciplinas e mesmo
cursos que se aprovam por frequência mínima. Há professores compenetrados que
dedicam mais tempo à chamada que a revisão da última aula. A chamada é uma
perda de tempo para o estudante, apenas serve para controlar o aluno, aquele
que se está ai (supomos) recebe. A chamada é a morte do estudante e a
consagração do ignorante passivo que deve estar preso a uma cadeira para
receber e, então, perder um pouco de sua ignorância mediante o exercício da cátedra.
O sistema cada vez mais fabrica
alunos. Se não recuperarmos os estudantes a escola terá, cada vez mais, a
cátedra e a cadeia das cadeiras dos alunos.
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