Gabriel
Perissé
Professores
e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela ideia fixa
de que podem mover o mundo. Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar:
estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as
inteligências.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a
menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro!
Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão
carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o
pneu da alegria. Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço
de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o
absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a
aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias,
catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito,
das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor
apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando
apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café
ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro. Ter fé
impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam
a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada,
ensinar é uma forma de oração. Não essa oração chacoalhar de palavras sem
sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar
esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da
realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação,
percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não
esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
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